PROPEDÊUTICA
Ultrassonografia dos Vasos Sanguíneos
O Ultrassom Doppler (ou Duplex Scan) é um procedimento indolor que utiliza as imagens obtidas pela ultrassonografia, associadas à análise das ondas de som de alta frequência, que fazem uma análise do fluxo do sangue no interior dos vasos. Este exame fornece três tipos diferentes de informação ao médico. Primeiramente, ele constrói a imagem do vaso sanguíneo, idêntica a uma ultrassonografia comum. Em segundo, o Duplex avalia a velocidade e a direção do fluxo do sangue. Por último, o Duplex fornece uma imagem artificial colorida do fluxo sanguíneo, que facilita a identificação de pequenos vasos, expõe o sentido do fluxo do sangue, e pode mostrar áreas de turbulência deste fluxo, o que pode ser indicativo de alterações no vaso. Outra qualidade do Duplex é que este é um exame não invasivo, ou seja, não há necessidade de punções com agulhas ou ingestão de medicamentos.
Índice Tornozelo-braquial (ITB)
Vários estudos sugerem que o índice tornozelo-braquial, uma medida não invasiva da doença arterial periférica, é altamente preditivo de subsequente morbidade e mortalidade cardiovascular em pacientes hipertensos. Um simples marcador de risco cardiovascular pode permitir um rastreamento populacional e identificar pacientes que necessitam de estudo mais detalhados e tratamento mais intensivo. O índice tornozelo-braquial é de fácil obtenção, útil para melhorar a estratificação de risco cardiovascular e parece ter um lugar na rotina de avaliação clínica em pacientes com mais de 50 anos, portadores de hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia e tabagismo.
Aterosclerose
Aterosclerose é uma doença inflamatória crônica caracterizada pela formação de ateromas (placas) dentro dos vasos sanguíneos, na qual a placa pode acumular-se no trajeto das artérias. As artérias são vasos sanguíneos que transportam sangue rico em oxigênio do coração para outras partes do corpo. A placa é constituída por gordura, colesterol, cálcio e outras substâncias encontradas no sangue. Com o tempo, a placa endurece e reduz o calibre interno das artérias. Isso limita o fluxo de sangue arterial para os órgãos e outras partes do seu corpo. A aterosclerose pode levar a problemas graves, incluindo ataque cardíaco, acidente vascular cerebral, isquemia severa dos membros, podendo levar a morte.
Doença das Artérias Carótidas
A doença da artéria carótida é causada por aterosclerose onde a placa de ateroma,reduz o fluxo de sangue para o cérebro. Um AVC pode causar dano cerebral permanente, deficiência em longo prazo, a paralisia (incapacidade de se mover), ou a morte. Os acidentes vasculares cerebrais (AVC), dentro das causas circulatórias, são a segunda maior causa de óbitos em todo o mundo.
Síndrome de Reynaud
A Síndrome de Reynaud é uma doença que afeta os microvasos sanguíneos e faz com que, principalmente, os dedos das mãos e dos pés mudem de cor, apresentando rouxidão, palidez ou vermelhidão dos membros. É mais comum em mulheres adultas e pacientes que possuam histórico familiar da doença. Os vasos sanguíneos, na síndrome de Raynaud, sofrem contrações e dilatações anômalas, diminuindo e aumentando, respectivamente, o fluxo sanguíneo das extremidades (ex: dedos). O diagnóstico é feito através de um bom exame físico e com auxílio de exames laboratoriais.
Buerger
A Doença de Buerger é caracterizada pela inflamação dos vasos sanguíneos (pequenos e médios) nas mãos e pés. As artérias são os vasos geralmente mais afetados, no entanto, pode afetar as veias também. Os segmentos dos vasos sanguíneos estão inflamados e são chamados de vasculite. Isto leva ao estreitamento dos vasos sanguíneos, formação de coágulos podendo causar o bloqueio desse vaso. Devido ao bloqueio, o fluxo sanguíneo é prejudicado, o que leva a dores nas mãos e pés. Isso pode levar a danos e morte de tecido nos membros.
Doença Arterial Periférica
A doença arterial periférica (DAP) é uma doença que ocorre fora dos vasos do coração e do cérebro, caracterizada por estreitamento progressivo das artérias, na maioria das vezes causadas pelo processo de aterosclerose. A doença arterial periférica ocorre quando uma placa de ateroma se acumula nas principais artérias que fornecem sangue para as pernas, braços e pelve. O estreitamento e endurecimento das artérias fazem com que o fluxo sanguíneo para as partes do corpo seja reduzido ou bloqueado, podendo ocorrer dormência, dor, feridas chegando à necrose.
Aneurisma da Aorta Abdominal
Um aneurisma consiste na dilatação de um segmento da artéria. A dilatação se deve à fraqueza desenvolvida numa porção da parede arterial. Assim como um balão, o alargamento do aneurisma estende-se pelas camadas da parede arterial, que cada vez mais fina, compromete a capacidade elástica deste trajeto correndo o risco de romper-se. O local mais comum para um aneurisma da aorta é o abdômen, abaixo do nível das artérias renais. Um aneurisma da aorta abdominal (AAA) pode não ser detectado em exames de rotina, mas a ultrassonografia fornece uma avaliação não invasiva precisa e segura para medir o tamanho da aorta.
Doença Renal Crônica
Uma das causas da doença renal crônica ocorre se uma placa de ateroma reduzir o fluxo de sangue nas artérias renais. A redução do fluxo arterial para os rins pode acarretar hipertensão arterial de causa vascular. Ao longo do tempo, a doença renal crônica causa uma lenta perda da função renal. A principal função dos rins é remover os resíduos e a água em excesso do corpo. A doença renovascular causa hipertensão arterial sistêmica (HAS) de origem secundária, variando, segundo alguns autores, de 1% a 4% na população geral. A aterosclerose sistêmica é sua maior causa e responsável por danos em vários sítios, como lesões periféricas, cerebrovasculares, carotídeas e em artérias coronárias. Podemos definir hipertensão renovascular (HR) como uma condição clínica secundária a um estado de redução da perfusão renal, decorrente de um estreitamento do calibre da artéria renal maior que 60%.
Varizes
As varizes são veias dilatadas, muitas vezes tortuosas, que podemos enxergar logo abaixo da superfície da pele. Estas veias geralmente estão presentes nas pernas, no entanto, elas também podem se formar em outras partes do corpo. As varizes são uma condição comum, geralmente causam poucos sinais ou sintomas. Em alguns casos, as veias varicosas podem causar complicações tais como a dor leve a moderada, inflamações, formação de coágulos em seu trajeto, ou úlceras da pele. As veias têm válvulas unidirecionais que ajudam a manter o sangue fluindo em direção ao coração. Se as válvulas são fracas ou danificadas, o sangue pode inverter o sentido de seu fluxo (refluxo) e permanecer em estase no trajeto das veias. Isto faz com que as veias se dilatem podendo formar as varizes.
Complicações das varizes
As varizes podem levar a dermatite ocre, ou seja, uma pigmentação acastanhada na pele, que aparece nas pernas e tornozelos devido às complicações dessas, desenvolvendo manchas e erupção cutânea. Este problema surge quando ocorrem problemas na circulação do sangue, compelindo a migração dos elementos do sangue para a pele, estes acabam se fixando em locais onde não deveriam estar com esta complicação é nomeada de estase sanguínea.
As varizes também podem levar a uma condição chamada de tromboflebite superficial. Tromboflebite é um coágulo sanguíneo dentro de uma veia. A tromboflebite superficial significa que o coágulo de sangue ocorre numa veia próxima da superfície da pele. Este tipo de coágulo de sangue pode causar dor e outros problemas na área afetada.
Trombose Venosa Profunda
A Trombose Venosa Profunda (TVP) é uma doença potencialmente grave causada pela formação de coágulos (trombos) no interior das veias profundas. Na maior parte das vezes, o trombo se forma na panturrilha, ou batata da perna, mas pode também instalar-se nas coxas e, ocasionalmente, nos membros superiores. A TVP pode ser uma causa de inchaço nas pernas e outros sintomas crônicos (de longo prazo), podendo ser grave em sua fase aguda (em curto prazo). Os sinais clínicos clássicos da trombose venosa profunda incluem aumento da temperatura local – a perna fica quente –, inchaço, dor e rigidez da musculatura, especialmente na panturrilha ("batata da perna"). Contudo, em cerca de 50% dos casos, o trombo se instala na veia sem provocar manifestações locais. Essas são as situações de maior perigo, pois o primeiro sintoma pode ser a embolia pulmonar, que cursa com falta de ar, palpitação, febre baixa, ansiedade e dor no tórax.
A longo prazo, o risco é a insuficiência venosa crônica ou síndrome pós-flebítica, que ocorre em virtude da destruição das válvulas situadas no interior das veias encarregadas de levar o sangue venoso de volta para o coração. A insuficiência venosa crônica (IVC) descreve uma condição que afeta as veias dos membros inferiores (pernas) com hipertensão venosa. Isto leva a uma dor, inchaço, edema, alterações da pele, e ulcerações nas pernas.
O desprendimento do coágulo pode provocar complicações a curto ou longo prazo. A curto prazo, ele pode deslocar-se até o pulmão e obstruir uma artéria. Esse episódio é chamado de embolia pulmonar e, conforme o tamanho do coágulo e a extensão da área comprometida pode ser mortal.
Síndrome do Desfiladeiro Torácico
É a disfunção do membro superior, resultante da compressão do feixe neurovascular, plexo braquial, artéria e veia subclávia. Essa compressão do plexo braquial pode ser tão intensa que inibe a circulação sanguínea dos membros superiores. Geralmente ocorre em pacientes jovens e atletas que estão envolvidos no movimento, sobrecarga repetitiva, como natação ou baseball. Problemas vasculares e neurológicos são frequentes por causa das compressões extrínsecas. A veia subclávia pode sofrer trombose, e dilatações pós-estenóticas podem ocorrer na artéria subclávia, ambas complicadas por fenômenos trombo-embólicos.
- Compressão no Triângulo Escalênico (Síndrome dos Escalenos): neste ponto do desfiladeiro, a compressão pode ser arterial ou nervosa, pois a veia subclávia passa anteriormente aos músculos escalênicos.
- Compressão entre a clavícula e primeira costela (Síndrome Costo-Clavicular): a artéria subclávia, a veia subclávia e/ou nervos do plexo braquial podem ser comprimidos.
- Compressão pelo tendão do músculo peitoral menor: a artéria subclávia, a veia subclávia e/ou nervos do plexo braquial podem ser comprimidos.
- Compressão por Cervical: compressão vascular ou nervosa por anomalia congênita das vertebras cervicais.
- Compressão por traumas.
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